segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A História da Faixa do Cidadão (PX)

O Serviço Rádio do Cidadão iniciou-se nos Estados Unidos por volta de 1947, devido a invenção (sim, ela foi inventada) do radioamador W8PAL - Al Gross, e popularizada pelo brinquedo (naquela época era só um brinquedo) conhecido como Walkie-Talk (transceptor de mão ou, "para caminhar"), e foi quando a Comissão Federal de Comunicações (FCC) abriu o licenciamento para uso do público em geral, da banda de 460-470 MHz. Em 1948 foram introduzidas três classes deste serviço (A, B e C) mas a tecnologia daquela época não era suficientemente avançada para fornecer equipamentos de baixo custo, capazes de operar na faixa de freqüência designada.
Em 1958 a FCC revogou parte da banda dos 11 metros (27MHz) previamente compartilhada por radioamadores e usuários industriais para o Serviço Radio do Cidadão, criando uma nova classe do serviço, a Classe D. A banda foi dividida em 28 canais, 5 dos quais foram reservados para equipamentos de telecomando (brinquedos e outros aparelhos controlados por controle remoto).
Em plena década de 70, nos Estados Unidos, o Radio do Cidadão alcançou a sua maior popularidade e, em 1976, mais 17 canais foram adicionados, criando-se a faixa normalmente conhecida como Faixa do Cidadão que vai de 26.965MHz a 27.405MHz (40 canais + 5 telecomandos).
Em 1977, 15 milhões de norte-americanos possuíam licença para utilizar esta faixa, entretanto, as autoridades estimavam em 100 milhões o número de aparelhos em circulação.
Em 1983 a FCC deixou de requerer a licença para operação, após uma decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos, que declarou ser inconstitucional licenciar o cidadão no direito da livre expressão pessoal e/ou comunicação.
Na Europa, o Serviço de Radio do Cidadão, que é chamado oficialmente de Radiocomunicações Pessoais 27' (PR 27'), foi introduzido nos anos 60.
Nos anos 80, os vários governos europeus já tinham suas próprias legislações e alguns, reconhecendo que deveriam ser desenvolvidos serviços de melhor qualidade, facilitaram o uso da faixa dos 900 MHz.
Em 1984, o Parlamento Europeu reconheceu "a importância do uso do Radio do Cidadão como meio de expressão e comunicação para os cidadãos da Comunidade Européia" (Resolução de 30/03/1984).
Com o avanço da tecnologia das telecomunicações (como por exemplo: o surgimento da telefonia celular, que opera na faixa dos 900MHz ) e a intenção de unificar as legislações dos países que formam a Comunidade Européia, o panorama mudou bastante.
Em 1965, mesmo ilegais, grupos de Radioamadores e também iniciantes do Brasil inteiro, usando equipamentos de montagem própria, já operavam nas frequências de 27MHz, apaixonados pelo baixo ruído de estáticas (comparados às bandas de 40 e 80 metros) e o uso de antenas menores e eficientes. Eles eram reconhecidos provisoriamente pelos serviços de fiscalização de Radioamadores e classificados como BX (carinhosamente chamados de BATATA XINGÚ) a qual lhes cabiam todas as responsabilidades de eventuais interferências.
Finalmente em 1970, o serviço de Rádio do Cidadão foi introduzido no Brasil, inicialmente com 23 canais e mais 5 telecomandos, imitando a legislação americana e tendo seu uso destinado para fins profissionais e familiares. Em 1979, atendendo aos pedidos dos milhares de operadores desta faixa e aos presidentes de vários grupos organizados, uma nova portaria (01/80) ampliava então para 60 o número de canais, sendo 26.965MHz como canal 1 e 27.605MHz como canal 60 (60 canais + 5 telecomandos).
Em alguns países da Europa, prevalecem até hoje, apenas 16 canais e em outros como o Japão, o serviço foi definitivamente cancelado.
IMPORTANTE: Os rádios de 60 canais fabricados no Brasil, possuem os canais 23, 24 e 25 diferentes em frequências dos rádios de 40 canais Americanos. Isso acontece porque na época inicial da faixa, um rádio precisava para cada canal, 2 cristais, sendo 1 para a transmissão e outro para a recepção, com diferença de 455kHz entre eles. Nesse caso, um rádio de 23 canais precisaria de 46 cristais, elevando acima do aceitável os custos de fabricação destes aparelhos. Felizmente, em 1958 nos Estados Unidos, foi inventado um tipo de sintetizador que tornou possível obter 23 canais, respeitando os 5 telecomandos com apenas 14 cristais, diminuindo assim os custos dos equipamentos sem perder a qualidade. Só que esse tipo de sintetizador combinado com o cálculo de mais 5 canais de telecomandos, forçou um buraco de 2 nanais entre o 22 e o 23 que ficaram vazios (sem nome) até que em 1975/6 surgiu o "Flip-Flop" (vários integrados numa placa separada, protegida por uma caixa de metal, que fazia um trabalho de laço fechado) e depois, o PLL (um único circuito integrado capaz de sintetizar frequências, controlado por "buffers" ligados aos contatos de um seletor de canais). Eles possibilitaram aumentos de canais com custos bem menores e com mais precisão de frequências, pois eram assessorados por até 3 cristais somente.
Quando em 1976 a nova legislação da FCC Americana aumentou de 23 para 40 canais, todos os novos modelos eram obrigados a sintetizar somente com "Flip-Flop" ou PLL e, os antigos rádios de 23 canais que eram controlados a cristais, tiveram seu uso proibido, tendo aqueles 2 canais vazios entre o 22 e 23, ocupados pelo número 24 e 25 sendo a ordem:
22 (27.225MHz), 24 (27.235MHz), 25 (27.245MHz), 23 (27.255MHz) e assim por diante.
O PLL reina até hoje, marcando o fim dos aparelhos com grande quantidade de cristais osciladores.
No Brasil, em 1979, o DENTEL aumentou de 23 para 60 canais e a arrumação das novas frequências respeitaram a sequência padrão dos antigos de rádios 23 canais até o canal 22, mas ignorando a troca que os americanos fizeram nos canais 23, 24 e 25, mantendo a separação de 10kHz do canal 22 até o canal 60. Os padrões de frequências da nova portaria ficaram:
22 (27.225MHZ), 23 (27.235MHZ), 24 (27.245MHZ), 25 (27.255MHZ), 26 (27.265MHZ) e assim por diante.
Nesse caso os canais trocados ficaram:
Rádios 40 Canais Rádios 60 Canais* Frequência
23 25 27.235MHz
24 23 27.245MHz
25 24 27.255MHz

(*) A CCE, por ser uma empresa Brasileira, lançou no mercado entre seus modelos de 60 canais, alguns rádios de 40 canais com a mesma legislação dos rádios de 60 canais. Logicamente, esses rádios foram fabricados com os 3 canais trocados comparados com os rádios de 40 canais Americanos.
Veja na tabela abaixo o método utilizado nos rádios de 23 canais para sintetizar com 14 cristais. São 6 cristais de 37 mhz com separação de 50 khz entre eles, seguidos de 4 cristais de 10 mhz separados por 10 khz entre eles na transmissão e 4 cristais de 10 mhz separados por 10 khz entre eles na recepção. A diferença de frequências entre os cristais de 10 khz da transmissão e recepção é de 445 khz que é a mesma frequência do canal de FI (frequência intermediária). Observe que para a constituição dos canais de telecomandos, foi necessário separar em 20 khz entre 2 cristais de 10 mhz.

10.635MHz 10.625MHz 10.615MHz - 10.595MHz
37.600MHz 1 2 3 3TC 4
37.650MHz 5 6 7 7TC 8
37.700MHz 9 10 11 11TC 12
37.750MHz 13 14 15 15TC 16
37.800MHz 17 18 19 19TC 20
37.850MHz 21 22 PA(24) N/C (25) 23
10.180MHz 10.170MHz 10.160MHz - 10.140MHz
Master RX TX Canais PA N/C

Esse foi o mais comum dos sintetizadores usados em quase todos os antigos rádios de 23 canais. Também foram criados outros sintetizadores com apenas 12 cristais, mas poucos foram usados porque eles surgiram pouco antes da invenção do PLL. O canal 24 fica na marca do PA (um corte nos contatos do seletor de canais marcado por um ponto entre os canais 22 e 23 impedindo o seu funcionamento) e o canal 25 simplesmente pula como se fosse o sexto canal de telecomando (só existem 5 canais de telecomando nesta faixa).

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